A REJEIÇÃO DÓI

CERTA VEZ, UMA ANCIÃ ÍNDIA AMERICANA, a quem se perguntou como havia se tornado tão sábia, feliz e respeitada, respondeu: “Em meu coração, vivem dois lobos: um lobo do amor e outro do ódio. Tudo depende de qual deles eu alimento a cada dia”.

Embora o lobo do ódio renda mais manchetes, o do amor tem sido cuidadosamente educado pela evolução para ser mais forte – e mais fundamental para sua natureza mais profunda. No longo caminho desde as minúsculas esponjas dos mares primitivos até a humanidade de hoje, relacionar-se bem com outros membros da espécie tem sido de grande ajuda para a sobrevivência.

Os mamíferos e as aves encararam desafios de sobrevivência semelhantes aos que os répteis e os peixes enfrentaram – habitat hostil e predadores ferozes. Contudo, proporcionalmente ao peso corporal, os mamíferos e as aves têm cérebro maior. Por quê? Os répteis e os peixes geralmente não criam seus filhotes – na verdade, às vezes, até os comem! – e é típico viverem sem um parceiro. Já os mamíferos e as aves criam seus filhotes e, em muitos casos, formam casais, alguns para a vida toda. Usando a linguagem fria da neurociência evolucionaria, as “exigências computacionais” de selecionar um bom par, compartilhar os alimentos e cuidar dos filhotes demandaram maior processamento neural em mamíferos e aves.

Um esquilo ou um pardal têm de ser mais espertos que um lagarto ou um tubarão: mais capazes de planejar, comunicar-se, cooperar e negociar. Essas são as habilidades corretas que os casais humanos descobrem ser essenciais ao se tornar pais, sobretudo se quiserem permanecer unidos.

À medida que o cérebro humano evoluiu e aumentou de tamanho, o período da infância passou a durar mais. Consequentemente, os bandos hominídeos foram obrigados a desenvolver maneiras de manter seus integrantes unidos por muitos anos, pois, segundo o provérbio africano, tinham de preservar “uma aldeia inteira para educar uma criança” e, então, passar adiante os genes do bando. Para isso, o cérebro adquiriu circuitos elétricos e neuroquímicos poderosos para gerar e manter o amor e o vínculo. Esse é o fundamento físico sobre o qual a mente construiu suas experiências de romance, angústia e afeto profundo, bem como seus laços com os familiares. Obviamente, o amor vai muito além do cérebro: a cultura, o sexo e a psicologia pessoal também têm grande influência. No entanto, muitas pesquisas em neuropsicologia do desenvolvimento trouxeram esclarecimentos sobre por que o amor pode tomar rumos tão errados – e como endireitá-los.

O amor romântico está presente em quase todas as culturas humanas, o que nos leva a concluir que está enraizado em nossa natureza biológica – e também bioquímica. Embora as endorfinas e a vasopressina estejam envolvidas na neuroquímica da união e do amor, o papel mais determinante é exercido provavelmente pela oxitocina. Esse neuromodulador (e hormônio) produz sentimentos de afeto e carinho, e está presente em mulheres e homens, mas em maior quantidade nas primeiras. A oxitocina estimula o contato “olhos nos olhos”; aumenta a confiança; suprime a excitação da amígdala cerebelar e promove comportamentos de aproximação; e deixa as mulheres mais propensas a comportamentos que envolvem cuidado e proteção, como defender a prole, em situações de estresse – tal reação também é conhecida pelo termo em inglês tend-and-befriend.

Além de buscar o prazer do amor, tentamos evitar o sofrimento de terminá-lo. Quando há um rompimento, parte do sistema límbico das pessoas envolvidas é acionada – a mesma parte que é ativada quando são feitos investimentos de alto risco que podem acabar muito mal. A dor física e a dor social têm como base sistemas neurais sobrepostos:

Pode-se dizer, literalmente, que a rejeição dói.

“Se pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, encontraríamos em cada vida tristeza e sofrimento suficientes para aplacar qualquer hostilidade.”
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[Ref.: Dunbar e Shultz 2007, Coward 2008, Gibbons 2008, Jankowiak e Fischer 1992, Young e Wang 2004, Guastella, Mitchell e Dads 2008, Kosfeld et al. 2005, Petrovic et al. 2008, Taylor et al. 2000, Fisher, Aron e Brown 2006, Eisenberger e Lieberman 2004. Citação final: Henry Wadsworth Longfellow]

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